domingo, 18 de julho de 2010

REPETÊNCIA

Sérgio Costa Ribeiro, pesquisador do Laboratório Nacional de Computação Científica, ligado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), dissecou o que ele batizou como "pedagogia da repetência". Num estudo de 1991, ele escreveu que "essa prática está na própria origem da escola brasileira, com seu modelo de ensino de elite, em que o papel do professor era muito mais de preceptor da Educação orientada pela família do que um profissional autossuficiente do ponto de vista do processo de ensino e aprendizagem". E foi além. "As análises antropológicas até hoje realizadas mostram claramente que o sistema joga a culpa pelo fracasso escolar ora nos próprios alunos, ora nos pais, ora no sistema sociopolítico, raramente no despreparo dos professores, nas falhas de sua formação ou na organização escolar." Quase duas décadas depois, pouco (ou nada) mudou.

O campeão dos campeões
Em todo o planeta, não há nada igual aos índices de reprovação do Brasil. Para piorar, as taxas de algumas séries aumentaram nos últimos anos

O BRASIL É O PAÍS QUE MAIS REPROVA...
... E ESSE NÚMERO NÃO PRA DE CRESCER

Fonte: UNESCO
* Índice de reprovação na 8ª série no Brasil


Basicamente, há dois tipos de política pública no mundo sobre essa questão: ou pode reprovar ou não pode. Cada um deles tem nuances. Entre os que muitos países que permitem a reprovacão, Arábia Saudita, Portugal, Botsuana e Filipinas, não estabelecem nenhuma restrição à repetência nas escolas. O que muda é que em alguns casos essa decisão é tomada de forma centralizada (com base num exame nacional, por exemplo) ou descentralizada (escola por escola). Outros admitem "alguma repetência" no Ensino Fundamental. O caso mais conhecido é o de Hong Kong, em que os professores têm autonomia para reprovar "até 3% dos alunos por sala". Se têm 33 alunos na classe, eles podem reter um. Se acreditam que há mais estudantes que deveriam repetir de ano, os educadores precisam consultar uma comissão de colegas e delegados escolares, que avalia detalhadamente o trabalho do docente para ver se ele é parte do problema.

Já os que são contra a reprovação também se dividem em dois grandes blocos. O primeiro prevê a chamada progressão continuada em todas as séries do Ensino Fundamental. É o caso de Austrália, Coreia, Japão, Noruega, Suécia e outros países. E o segundo considera os anos iniciais como um ciclo de aprendizagem - e os anos finais mais próximos da estrutura "seriada" de ensino. No Chile, por exemplo, é possível reprovar a partir da 5ª série e, em Cingapura, a partir da 6ª.
"Há uma vasta literatura mostrando que expectativas, competência percebida e autoestima são fatores fundamentais no processo educacional. Convença um menino de que ele é incapaz e ele o será. Convença-o de que a Matemática ou a leitura estão além do seu alcance, e elas estarão. Reprove-o, sinalizando que sua única alternativa é a escolha entre trabalho braçal e diversos tipos de marginalidade, e ele, principalmente se é pobre e vive cercado de pessoas cujas vidas foram definidas dessa forma, acreditará."
Para superar esse gigantesco problema, precisamos dar pelo menos três passos: acreditar que todos podem aprender, avaliar constantemente o aluno e oferecer reforço durante o ano letivo para que ele progrida e implementar políticas de aceleração de aprendizagem que permitam aos alunos que estão atrasados a correção da distorção idade-série.
Antes de mais nada, é preciso acabar com a ideia de colocar o estudante como o culpado pelo fracasso escolar. A escola só existe para ensinar.
Fonte: www.ne.org.br

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